quarta-feira, 10 de junho de 2009

Dois e cinquenta - Quinta parte

Dormiu muito mal, amassou os lençóis, revirou-se na cama a noite toda. Quando cochilava, via cenas terríveis daquele homem dos cabelos negros e escorridos invadindo a boca de Cora com a língua e a escorregando com malícia masculina por toda a extensão corpo branco da moça.



Quando se levantou, Rebecca estava decidida a se atrasar. Sentia uma raiva imensa, não precisava pegar aquele ônibus inútil. Ignorava o frio na barriga que sentia. Repetia inúmeras vezes em voz baixa que não haviam razões pra sofrer com isso com a finalidade de se convencer. Encarou seu próprio rosto no espelho sem gosto. Penteou os cabelos mal pintados e observou as olheiras profundas. Desejava ser um pouco mais céu e um pouco menos inferno, pra estar num meio termo. Mas era toda inferno. Dentro de seus próprios olhos enxergava o inferno que havia, um inferno de desejo puro e reprimido. Hoje, mais que o ardor do desejo, a queimava o fogo da raiva. Fosse quem fosse, nenhum homem desejaria a cobradora mais que ela. Nenhum!



Vestiu-se com uma roupa qualquer e saiu. Não se atrasou. Tentou diminuir a velocidade dos passos para perder o ônibus, mas ela não pôde. Precisava ver a cobradora e seus cabelos claros. Quando o avistou no fim da rua, seu coração deu um salto maior do que o de costume. Deu o sinal, sentindo-se derrotada e fraca. Subiu e foi logo passar da catraca para acabar com o sofrimento de vez. Olhando para baixo, pôs a mão no bolso para pegar o passe escolar. Não estava. Na bolsa, não estava. Não estava em lugar nenhum, aquela merda. Procurava freneticamente.



- Perdeu o passe?



Rebecca respondeu que sim, sem desviar os olhos da bolsa.



- Hey... Hey! Tudo bem... - Não parava de revirar os pertences de dentro da bolsa.
- Tudo bem! - Cora esticou o braço e a tocou. Tocou o ombro de Rebecca com aquela mão pequena, onde cabia tanto delírio. A menina ficou paralisada por alguns instantes e levantou a cabeça vagarosamente para encarar a mulher. Nunca a havia visto de tão perto. Sentiu o corpo esquentar, ruborizar a face, queria explodir. Segurou-se com toda a força que tinha para não se jogar em cima dela e beijá-la ali mesmo. Como desejou tê-la naquele momento, despi-la e possuí-la, ali mesmo, naquele banco encardido. Sentiu ânsia de si mesma, estonteantemente misturada à intensa vontade de enlouquecer.



- Pode passar - sorriu com um sorriso diferente que Rebecca não soube interpretar. Não era um sorriso daqueles simpáticos de sempre, isso não era. Colocou a mão sobre a de Cora e a tirou de seu ombro, embaraçosamente excitada. Passou de uma vez e sentou-se um pouco mais longe nesse dia.



Não colocou o mp3, não observou o mundo do lado de fora. Tampouco observou Cora e seu comportamento formal com os homens e mulheres sujas do transporte público. Gravou na mente aquele sorriso e tentou decifrá-lo o dia todo.



Toda vez que pensava no assunto, junto à ânsia, uniam-se sensações das mais diversas, as pernas ficavam bambas e ela precisava fechar os olhos um pouco, pra passar,

(c)

Um comentário:

  1. hsaushaushhsaushuahsauhsuhauhsuahsuhua


    mew, você é totalmente pirada.

    "despi-la e possuí-la, ali mesmo, naquele banco encardido."

    vocês todas são doudas, com esse blog doudo.

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