terça-feira, 13 de abril de 2010

Dois e cinquenta - Décima sexta parte

Rebecca só foi embora pela manhã. Os raios de Sol invadiam o quarto de Cora pelas frestas da janela velha e iluminavam a alva pele nua da cobradora, que agora, ali, já não parecia mais uma oprimida de um sistema falho, mas sim uma conquistadora, uma exibicionista, mostrando todas as suas partes sem pudor, sem abrir os olhos, sem saber e sem se importar. A guria levantou-se pra sair, mas teve de se prender aquela imagem por mais alguns instantes.

A noite que Rebecca tivera com Gabriel não muito antes dessa em nada se comparava, obviamente, mas as comparações eram inevitáveis mesmo assim. O amor com que se possuiram, o jeito com que se olhavam de igual para igual, a maneira como sabiam perfeitamente o que fazer, mesmo nunca tendo feito nada parecido antes, criou uma atmosfera de intimidade sem limites, de energia positiva voando livremente pelo ar que respiravam. O desejo e o carinho se uniam num só, entre uma inundação de mãos leves e insanas que percorriam peles lisas e macias na noite (não muito) calada.

Ao contrário do silêncio que havia entre ela e Gabriel, que era um silêncio constrangedor, cheio de segredos e detalhes não citados, o silêncio de reinava entre as duas mulheres na cama de solteiro era repleto de leituras corretas de pensamentos, de detalhes que sequer precisavam ser ditos, era um silêncio com um sorriso de dentes, um silêncio com corações palpitando no mesmo ritmo.

Levantou-se muito cedo, apertou seus lábios na boca rosada que repousava frouxa na beleza do rosto da moça e rumou para sua casa, o Sol nascendo, querendo nunca mais tirar aquele cheiro de suas roupas. Tomou café e banho, colocou a mesma blusa de frio com cheiro de poesia e foi pro ponto, outra vez, de novo, sempre. Rotina, delícia, ousadia...

Subiu no ônibus pontualmente, o cansaço das pernas não se manifestava porque não cabia dentro de tamanho júbilo de ver Cora novamente, depois daquela noite que se prolongava num dia claro, com algumas nuvens, mais um dia azul.

As duas se olhavam muito mais do que carnalmente agoraa, como se pudessem encontrar a alma uma da outra com o olhar. Aliás, podiam. Sorriam com um pudor guardado nos poros, tentando não demonstrar tanto quanto estavam realmente sentindo. Mas, na realidade, talvez não estivessem conseguindo esconder muito bem.

Rebecca nem havia notado a presença do tal japonês hoje, ele se sentara mais pra trás, estava mais quieto que de costume, até que se levantou num pulo e interrompeu os olhares entre as moças, entrando com seu corpo másculo no meio do caminho. Trocou umas palavras poucas com a cobradora, a estudante franziu o cenho, um tanto enciumada. Quando ele se virou pra trás, porém, ao invés de se contentar e ir se sentar de uma vez, agachou-se ao lado de Rebecca, dizendo:

- Preciso do seu endereço!

-Ãhn? - levantou uma das sobrancelhas e continuou observando-o, confusa.

- Desculpe a intromissão, mas preciso. Não consigo mais viver nos sonhos do seu inferno, queimando no teu fogo.

Não hesitou por nenhum segundo. Antes que pudesse pensar, anotou em um papel o endereço que o maluco pedia e assim que ele foi embora, ela respirou de novo. Só então pôde pensar -ficou com o coração acelerado, pensando em porque raios ela tinha dado a merda do endereço, tão particular, pr'aquele maluco.

À noite, depois da escola, ao chegar em casa encontrou um isqueiro, embrulhado num envelope vermelho, junto dele, um convite...

Estremeceu,

(c)

5 comentários:

  1. TUDOBEMCONTINUAREI
    FICOULINDOBEIJOSDELIREI

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  2. Ler alguma coisa escrita por você, depois de um tempinho assim, é lindo. Não preciso dizer que isso tudo tá muito bom né?
    Um beijo, guria :**

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  3. a gente vai mesmo deixar a poesia morrer?

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  4. droga, eu chorei.

    estou chorando puerilmente. xD
    rsrssrsrrs

    não consegui ler as décima segunda, terceira e quarta partes. Não abriram. Não por acaso.

    Eu te amo, muito.

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  5. a gente vai mesmo deixar a poesia morrer?

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