segunda-feira, 15 de junho de 2009

Dois e cinquenta - Sexta parte

Com o carro ainda na oficina Miguel levantou decidido em pegar o ônibus, aquele inundado pelo mar azul. No fundo sabia que existiam outras formas para se locomover, como o táxi, que dessa vez poderia aceitar parar ao ver o novo brilho que mora em seu olho pequenino de japonês. Mas não. Ele não quer e mesmo assim insiste em afirmar pro seu coração que só vai até aquele ponto de ônibus por economia ou para experimentar algo novo. Pobre coitado, não percebe que o que o atrai até aquele ponto de ônibus são sim aqueles olhos escondidos por detrás da catraca. Tão diferentes do seu; tão expressivos. Tão infantis. Sim, por que da última vez notara que pareciam de uma criança - a cobradora parecia alguns tantos anos mais nova que nosso japonêsbrasileiroportuguês. Mas isso pouco importava naquele momento.



Subiu as escadas como quem sobe uma montanha, com muito cuidado dessa vez para que não chama-se atenção pelo seu destrambelhamento, como da última vez. Com o dinheiro contado (dessa vez em nota e moeda, como que para esbanjar dinheiro) entregou para a cobradora, esperando por um sorriso. Em vão. Ela também parecia esperar por algo, mas se intimidou ao vê-lo tão chique em seu terno e recuou tapando os grandes dentes com os lábios vermelhos.



Sentou-se, novamente em cadeira única, pegou um maço de papéis querendo se esconder e fingiu lê-los. Mas seu pensamento permanecia na sua menina azul.



Escondido entre o estofado e o vidro segurou firme um de seus pulsos e pôs a mão fechada dentra da boca, mordendo fortemente. Tomara isso como mania ainda criança. Quando seu pai morrera se lembra de sua mãe batendo em sua mão fazendo com que ele parasse. As pessoas não entendiam que esse era seu choro, seu grito, seu desespero.



Depois de deixar algumas marcas dentárias retirou a mão,aliviado.



De repente surge diante seus olhos, que evitarei caracterizar aqui de novo sabendo que já podem imaginar sua principal característica, aquelas duas lagoinhas azuis (ora mar,ora lagoa). Trocou algumas palavras; não pôde decorá-las bem. Estava muito ocupado em manter sua pose de dono de grife em shopping. E jamais poderia se deixar levar por aquele sentimento, afinal, ela era bem mais nova e uma funcionária, operária como outra qualquer. Mais um número no centro.



Mas Miguel não podia evitar tudo e nem tudo sumia junto à mordida de sua mão. Ela gostava de poesia e isso o fascinava. Não conhecia muito bem, mas se lembrava de algumas do Pessoa. Justo o que ela citou,

(e)

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